segunda-feira, 28 de abril de 2008

ELE MERECE!

Brn é o meu amor na sala de aula. Ele é um aluno lindo, gentil comigo, super educado (comigo), bagunceiro (faz parte), defensor dos fracos e oprimidos, iniciando a leitura e escrita agora, mas que bomba em Matemática. Sabe quando você gosta de um aluno de pronto? Tipo, amor à primeira vista? Isso aconteceu comigo e é recíproco.

Esse meu aluninho, pré-adolescente, mora na favela ao lado (parede com parede da UE - unidade escolar). Sua mãe fica o dia inteiro fora, vendendo tapioca. Um dia, na saída da escola, encontrei-o conversando com um carinha bem mais velho que ele, de aparência duvidosa. Logo eu pensei: Meu Deus...olhe por essa criança...

Brn quando não está com vontade de ir à aula, fica em casa dormindo. Faltou muito no início do ano letivo, mas agora, felizmente, comparece todo o dia na escola. Hoje, por exemplo, ele e mais seis amiguinhos leram em voz alta, para a classe toda, o poema Trem de Ferro, de Manuel Bandeira. Fizemos jogo de vozes e o resultado, confuso inicialmente, ficou bem legal no final. Brn estava lá, todo orgulhoso, peito estufado, realizando algo digno de sua pessoa, algo que demonstra sua conquista - o saber ler.

Outro dia, ele pegou da árvore uma folha, amassou bem, fez um canudo de papel e simulou estar cheirando algo (você sabe). Já vi alunos fazendo isso, nos anos anteriores e o susto não foi menor. Quando eu vi Brn nesse "faz de conta", fiquei absolutamente transtornada (Brun sai da sala, já para a diretoria!). Não foi! Fiquei calma e conversei com ele, sobre sua brincadeira. Penso nisso e meus olhos ficam marejados. Não posso perdê-lo! Não posso...

Meu lindo aluno é compositor de rap. Às vezes, ele pára a tarefa e senta numa carteira de frente para a janela (com vistas para a favela e para os esticadinhos), e canta baixinho. Outras vezes, fazendo sua lição ele canta músicas românticas, que falam de amor, de saudades, de abandono, de traição. Brn tem uma voz linda, só vendo (digo, ouvindo).

___Brn, canta um rap pra mim? Quero conhecer tuas músicas.

___Ah, professoraaaa, tenho vergonha...

___Canta, Brun, canta!

___Ah, prô...

___ bom, Brn, não vou insistir. Mas, suas músicas falam sobre o quê?

___Ah, prô, falam sobre a polícia que entra na favela dando tiros e matando inocentes. Fala sobre a violência, sobre o preconceito que a gente sofre. Pô! Sacanagem! O pessoal pensa que só porque a gente mora em favela, somos tudo bandido! Num é assim, naum, prô!

___É isso aí, Brn. Você está certíssimo em manifestar teu inconformismo nas letras de tua música. Muito bom. Brn sorriu e sorrirá muito mais amanhã quando souber que sua nota, em Matemática, foi a maior da classe. Ele tirou 9,5 e com arredondamento, irá com dez no boletim. Isso não é lindo???

Afinal, ele merece.

O Brn merece!!

Beijos, Brn

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Construção

Construção
O eu, escreveu Lacan, constrói-se à imagem do semelhante e primeiramente da imagem que me é devolvida pelo espelho - este sou eu. O olhar do outro devolve a imagem do que eu sou. O bebê olha para a mãe buscando a aprovação do Outro simbólico. O bebê tem que (é obrigado a) se “alienar” para que se constitua um “sujeito”. Porém só quando o bebê perde o objeto do seu desejo (mãe/seio) é que ele verifica que sua mãe não faz parte do seu corpo e não é completo (completude). Esta perda/separação vem por meio do “Significante Nome do Pai” que são as leis e limitações naturais da vida (trabalho, individualidade etc.). http://psiquecienciaevida.uol.com.br/ESPS/Edicoes/24/artigo70925-1.asp