quarta-feira, 23 de abril de 2008

ELE ME ABRAÇOU, DE VOLTA...

Estávamos quase no final da aula.

__Wel, vem realizar essa subtração na lousa.

__ Mas eu não sei professoraaaa (ele sempre fala chorando).

__ Uai, eu sei que você não sabe, por isso te chamei. Venha aprender...

Ele veio (digo, foi). Utilizando a representação do Material Dourado, pedi que o aluno subtraísse uma quantidade de um dado número. O domínio na subtração é fundamental para a realização da divisão, uma operação que eles verão logo mais.

__Wel, vamos lá. Você 5 unidades e tem que tirar 7 delas. Isso é possível?

__É, prô.

__Como, Wel?

Entre perguntas e respostas ele caminhou até concluir a questão apresentada. Num certo momento, diante de seus acertos, dei-lhe um abração bem forte e disse: Wel, parabéns.

Pela primeira vez, pela primeira vezzzzzzzz, ele retribuiu ao meu abraço.

Eu pude sentir, com sua atitude, que Wel apresenta indícios de confiança em mim. Parece que ele tenta confiar.

No nosso primeiro encontro, no início do ano letivo, Wel não levantava os olhos, respondia não sei para algumas perguntas, ou balançava os ombros (como a dizer não estou nem aí) às minhas indagações.

Pré-adolescente, resistente, trocando os dentes (heheheh, rimou) e quase da minha altura, Wel comporta-se como uma criança de três anos, faz muita birra e chora quando contrariado. Cisma que não vai fazer e não faz. Ao mesmo tempo, morre de medo de apanhar da tia. Hoje, novamente falei com ele:
___Puxa, Wel, eu não chamo tua tia prá nada, mas, cara, você não ajuda, neh? Só apronta em sala de aula.

Quando ele está bravo, fica com um bico enormeeee ou canta em alto e bom som na sala de aula, com uma voz desafinada, exagerada, esculhambada. Nessas situações olho prá ele e penso: qual é a tua? Garoto, se liga!! Já percebi que ele é capaz de ficar o dia inteiro sem fazer nada, principalmente quando peço (tipo: faz e pronto!).

Por outro lado, começo a entender seu jogo de atitudes e quais são as regras por ele determinadas. Já aprendi que ele espera que eu chame sua atenção justamente para dizer não. Percebi que Wel tem um tempo entre sua crise de birra e sua volta à calma, que logo depois ele cai na real e, desesperado, corre atrás do prejuízo.

Quero quebrar esse ciclo, mas preciso descobrir como. Creio que meu próprio aluno me dará a resposta. Estou no aguardo de novas dicas para conquistá-lo.

Será que conseguirei me aproximar mais? Será? Sei não!

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Construção

Construção
O eu, escreveu Lacan, constrói-se à imagem do semelhante e primeiramente da imagem que me é devolvida pelo espelho - este sou eu. O olhar do outro devolve a imagem do que eu sou. O bebê olha para a mãe buscando a aprovação do Outro simbólico. O bebê tem que (é obrigado a) se “alienar” para que se constitua um “sujeito”. Porém só quando o bebê perde o objeto do seu desejo (mãe/seio) é que ele verifica que sua mãe não faz parte do seu corpo e não é completo (completude). Esta perda/separação vem por meio do “Significante Nome do Pai” que são as leis e limitações naturais da vida (trabalho, individualidade etc.). http://psiquecienciaevida.uol.com.br/ESPS/Edicoes/24/artigo70925-1.asp