Segunda-feira. Preto na folhinha. Preto??? Só se for na folhinha, pendurada na parede de minha sala de aula. Do resto, foi tudo azul. Graças a Deus...
Ele chegou. Wly sempre entra meio sem graça, olhando de soslaio para mim, com o pirulito na boca e arrastando seus pés. Pera, não foi assim. Hoje eu me atrasei, portanto, quando cheguei ele já estava na sala, sentado, fazendo sua lição, sob comando da professora eventual. Sugestivo, isso, viu? Não somente ele, mas todos os alunos estavam silenciosos, sentados, comportados. Isso pouco acontece comigo em sala.
Ummmmmmm, o que isso quer dizer?
Poxa vida, sei que meu problema maior é lidar com a indisciplina dos alunos, mas hoje, com a minha colega, eles NÃO estavam indisciplinados. Isso quer dizer, quer dizer, que o MEU problema é bem maior do que eu pensava ser. Bom, tá certo, confesso, reconheço. Eu incentivo a partipação de todos, fica um convercê sem fim, porque aí, todos querem falar ao mesmo tempo.
Acredita, que em outra situação, alguns alunos juntam as carteiras ou as cadeiras, escolhem um livro no Cantinho da leitura, deitam-se sobre a cama improvisada, cruzam as pernas no alto, e iniciam a leitura, alimentando-se das imagens e dos textos, lá aparecidos? Outras vezes, sinto a falta de um aluno e pergunto: Cadê, fulano? Tá ali, professora. Ali, onde? Ali, ó, lendo. O ali, o onde, o aonde, o lugar é nada mais nada menos que o chão. Alguns deitados nas carteiras, outros sobre a fileira de cadeiras, outro no chão. Não, no chão é demais!!! Brn, levanta daí!!! Levantem-se todos, já!!
Bom, voltando ao Wly (protagonista de minha postagem anterior e do início dessa).
Ele e outro coleguinha (alto prá chuchu, com apenas 11 anos), foram escolhidos meus ajudantes dessa semana. A alegria foi enorme, para ambos. Além disso, devolvi as tarefas por ele realizadas, quase todas com acerto. Levei outras mais - especiais para o grupo dele, composto por seis alunos (com desenvolvimento precário na leitura e na escrita) - separadas a dedo, equilibrando dificuldade com possibilidade de êxito, que exigiu deles mas que permitiu o acerto, após algumas tentativas. Esse grupo trabalhou bastante hoje, inclusive Wly. Trabalhar ele trabalhou, cansar ele se cansou, mas no fim ele ficou feliz por seu sucesso.
___ Professora, tô cansado...
___ É, hoje vocês trabalharam bastante.
___ É...
___ Mas, Wly, você aprendeu bastante, também, né?
___ É, professora. Dito isso, Wly encostou a cabeça na carteira, sobre seus braços e sorriu.
___ Isso é bom, né? Aprender é bom, né, Wly? Ele respondeu que sim, movimentando a cabeça.
Pouco antes do final da aula, entreguei suas atividades para que ele mostrasse à mãe. Logicamente, aproveitei o momento e disse:
___ ÔÔÔ, Wly, mostra pra tua mãe o que você fez e conseguiu nessas últimas semanas. Ahhhhh, mas não se esqueça de falar que você inventou toda aquela história, que eu não sei qual foi, sobre mim. Aí, ela não mais virá dar um soco na minha cara, neh? Ou você acha que eu mereço isso? Um soco...
Ele me olhou, sem graça, e com a cabeça baixa respondeu:
___ Não merece.
Espero que sua mãe pense assim, também.
Ninguém merece...
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Um comentário:
Cara colega, estes são os ossos do ofício fantástico que escolhemos.
Paz e harmonia para você.
CAUROSA - caurosa.wordpress.com
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