domingo, 2 de novembro de 2008

SEISCENTOS REAIS.

Seiscentos reais é a renda mensal da família de meu aluno, composta por três crianças e dois adultos.

Professor ganha pouco, todos sabem. Mas uma professora que trabalha (se mata) na rede pública, nos dois, Estado e na Prefeitura, ganha um pouco mais que seiscentos reais. Não sei se isso influencia, não tenho formação em Psicologia Social nem nada disso, mas cogito que o universo da professora pode ser muito diferente do universo do aluno. Então, o diálogo fica muito difícil. Com essas realidades tão diferentes, a comunicação fica muito prejudicada. Parece que se fala outra língua. Não é o caso de abaixar o sálário das professoras, neh? Mas melhorar as condições de vida do pessoal da periferia, em especial.

Não sei...

A distância é enorme. Caso o professor não faça um esforço para conhecer, compreender e aceitar o mundo do aluno, suas peculiaridades, a relação ensino aprendizagem ficará, certamente, comprometida.

Sinceramente, eu fiquei chocada com o salário desse senhor, padrasto de meu aluno. Fico pensando se os alunos de minha sala, todos muito pobres, não foram reprovados por causa de sua condição de vida. Não me relaciono ao preconceito, mas às dificuldades que essas crianças apresentam, já que estão muito distantes de um mundo onde os pais lêem diariamente, onde a escrita tem um uso social acentuado e onde livros, revistas, jornais circulam normalmente em seu ambiente.

Se o professor não acredita no letramento, crianças com o perfil citado acima dificilmente serão alfabetizadas. Isso é fato.

Isso é um fato triste, embora real.

Um comentário:

Anônimo disse...

Colocamos que um aluno é "frustrado" por ter uma renda tão baixa, com apenas 1 pessoa na família trabalhando, 3 irmãos, e por isso reprove. Colocamos do outro lado outras profissões que não se matam e tiram 3, 4x o salário do professor.

Talvez por isso os professores estejam tão frustrados e sem querer ver o lado do aluno. Mas não por isso temos que baixar os outros salários, mas vermos o lado do professor. Essa é a realidade.

Construção

Construção
O eu, escreveu Lacan, constrói-se à imagem do semelhante e primeiramente da imagem que me é devolvida pelo espelho - este sou eu. O olhar do outro devolve a imagem do que eu sou. O bebê olha para a mãe buscando a aprovação do Outro simbólico. O bebê tem que (é obrigado a) se “alienar” para que se constitua um “sujeito”. Porém só quando o bebê perde o objeto do seu desejo (mãe/seio) é que ele verifica que sua mãe não faz parte do seu corpo e não é completo (completude). Esta perda/separação vem por meio do “Significante Nome do Pai” que são as leis e limitações naturais da vida (trabalho, individualidade etc.). http://psiquecienciaevida.uol.com.br/ESPS/Edicoes/24/artigo70925-1.asp