Quando, em fevereiro, notei que 24 dos meus 28 alunos estavam em níveis de UTI, na alfabetização, fiquei desesperada (quase). Crianças repetentes apresentavam a hipótese silábica sem valor sonoro, em suas escritas.
Destruídas, emocionalmente falando, o amor por si e pelos demais praticamente inexistia. Era soco pra lá, soco pra cá, palavrões, gestos obscenos e tudo o que se pode imaginar, refletindo o interior conturbado de meus alunos. O que eu via, ouvia e sentia era o resultado de descaso com essas crianças e seu abandono, nesses anos todos de vida escolar.
Sem saber ler, com baixa capacidade de relacionamento, com auto-estima precária, com respeito ao próximo quase zerado, a criançada da quarta série representou e representa um enorme desafio para mim.
Hoje apresentei as notas da prova de Leitura e Escrita para meus alunos. Com 25 crianças (número máximo permitido para uma classe PIC*), constatei que apenas sete alunos permanecem em condições assustadoras em seu aprendizado da lecto-escritura. Os demais 18 alunos obtiveram notas de 5,0 a dez. Uma única criança conquistou a nota máxima, mas isso significou muito para ela e para mim. Aliás, para toda a classe. De repente, a nota dez é permitida para eles, está acessível, possível, próxima. Duas crianças tiveram como resultado a nota cinco, uma delas, inclusive, considerada disléxica (penso que equivocadamente). Às custas de muita fala positiva, de mensagens de ação, de estratégias, consegui que meu aluninho quebrasse esse determinismo, imputado em si, de que jamais aprenderia algo.
Encontrei-o, nos primeiros dias, como se fosse um morto vivo, sem reação na sala de aula (olhar parado, boca aberta, lápis na mão, sem atividade). Vamos, Glei, vamos! Agita, garoto! Trabalha! Você consegue, você pode! Com meu inconformismo diante da situação desse menino, minha não aceitação (Cadê o diagnóstico? O laudo da equipe de especialistas? Cadê?), tentei injetar coragem nesse garotinho, prôpus atividades cuja vitória era possível e voltadas as suas necessidades. Todos os dias minha fala se repetia: trabalhe que você consegue! Faça! Tente! Nessa prova (Português), ele conseguiu nota cinco, o que equivale a dez, com toda certeza, já que ele lutou com todas as suas forças, trabalhou e acreditou. Essas crianças vitimizadas!
Wan tirou nota dez! Chegou, como os demais, sem saber ler e escrever (Matemática, também). Nessa prova bimestral (primeira), sua nota foi a máxima. Wan lutou, batalhou, trabalhou, sofreu, errou, acertou, escreveu, apagou, perguntou, respondeu, participou, reagiu, agiu, cansou, descansou, brincou, brigou, sonhou, acreditou, ouviu, falou, buscou, achou, venceu.
Wan iniciou com medo, o ano de 2008. Acredito que agora, em sua casa, o receio em não conseguir, transformou-se em certeza de sua capacidade. Ele pode e consegue. Aliás, como todos, né?
A criançada precisa trabalhar e o professor orientar a tarefa a fazer. Não há milagres, inclusive, na alfabetização (dá um trabalho danado, trabalhar...)
Parabéns, Wan, Glei e os demais alunos meus (dos anos anteriores, também). Parabéns pra professora...
*http://www.doesp.net/estadual_resolucao_se_86_2007.html
Formação da competência docente
Há 7 anos
4 comentários:
oi mãeee
adorei o post de hj
vc como semrpe uma vencedora mostrando aos alunos o verdadeiro valor de ser alfabetizado...
queria falar uma coisa...vc colokou em seu texto "cade o laudo dos especialistas", e achu q isto naum eh totalmente necessário, aind amais pra vc, q vê o aluno como um todo e naum somente o que acha q ele eh capaz de fazer e ponto....
um laudo a mais ou a menos, seria importante, mas naum definitivo nu seu método taum valioso de ensinar!!!
olha falei xic neh
:)
bjus mãezocaaaaa
...bommmm....a nat ja disseee tudooo...
gsotaria que todos os educadoresss fossem como vc...que todos os pais olhassem para seus filhos positivamente...independentemente de um diagnosticooo...(que em algusn casos nem sao tao certos)...
parabenssss betinhaaa!!!! fonte inspiradora de uma educação para o futuroooo...
Tia fico muito emocionada com seus post´s quando estes referem- se à evolução de seus alunos. Isso mostra não só que eles são capazes de aprender, mas mostra tb que eles têm vontade e fome de aprender!
Fico lisongeada em ter uma tia educadora com tanto amor, carinho e objetivo profissional.
Lembro de uma observação que li em um livro do psiquiatra Augusto Cury, sobre os sistema educacional. Não lembro na íntegra, mas dizia mais ou menos que a base educacional não deveria ser como a de ultimamente onde os educadores injetam pacotes de ensino e não ensinam nada sobre a vida, sobre o seu eu. Você é diferente. Você vai além. Agarra uma causa: Criar uma base sustentável para seus alunos.
Isso é importante, pois você não só ensina o "arroz com feijão", mas a "macarronada" tb.
Tia te amo.
Bju
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