domingo, 20 de abril de 2008

O AMOR É LINDO...

Um aluninho meu, hoje na sala:

_ Prô, o te tá estito ati?

_ Deixa eu ver, ummmmm, está escrito: Thaina eu ti amoaka. Que lindo, Rafel, vc está apaixonado pela Thaina!!

_Não, prô, tô não!

A aula segue....

De novo:

_Pro, o te tá estito ati?

_Ummmmmmm, deixa eu ver... Bom, está escrito: Aina eu tiamoaka. Aí eu disse: que lindo, Rafel, vc está apaixonado pela Aina. Mas quem é Aina, Raf?


__Não, prô, não é Aina.

Aí eu me toquei:

__Raf, vc quer escrever ANA??

__ Ito, prô.

__Ahhh, Raf, então pensa, pq aí está escrito Aina e não Ana.

___ Prô, Ana tem três letras, neh?

__ Sim, Raf.

__ Tá, prô.

A aula segue (ou quase) e Rafs absorto em sua tarefa, tenta escrever o nome da amada.

__Prô, ati tá estito ANA?

___ Sim, vc acertou Raf. Quer dizer que vc está apaixonado pela Ana? Que lindo...

Rafs fica vermelho, envergonhado, mas não diz nada. Um sorriso confirma seu primeiro amor.

A aula segue (ou quase), mas Raf nem aí para as tarefas. Em pé, mexe prá lá, mexe prá cá, dobra, desdobra, vira prum lado, vira pro outro, uma folha de caderno universitário.

___ Raf, a lição Raf, a lição.

____ Tá vou, prô! responde envergonhado.


Quando chego perto, vejo que ele está "confeccionando" o envelope para sua, penso eu, primeira carta de amor. Eu não tinha como brigar com ele, chamar sua atenção, ou coisa que o valha. Fiquei encantada, sorri e ele sorriu de volta.

A aula segue (ou quase). Percebo um burburinho entre o apaixonado e uma colega de classe. Ele estava bravo.

___ Gente, o que acontecendo aqui?

___ Ele quer que eu escreva algo, mas eu não quero, professora.

___ O que é, Raf?

___Prô, eu tero que escreva ati, um negócio.

__ O quê, Raf??

___ Abra e leia a carta.

Eu olhei para o tudo o que meu aluninho tinha escrito e era algo do tipo:

ANA, TIAMOGAR NADASSAM OMA

NARQC NANA RCA

AMA NATA TATA NACA


Peguei o envelope, recém confeccionado com tanto primor e escrevi no local indicado por ele: Abra o envelope e leia a carta.

__Tá bom assim, Raf?

__Tá tim, prô. Brigadu.

__ Tá, Raf.

Ele sorriu, o sorriso mais lindo, mais feliz que alguém possa ter. O sorriso apaixonado do primeiro amor, que ainda não conhece a dor.

Rafs terminou sua tarefa (carta e envelope). Sua amada deve ter recebido uma declaração de amor e tanto. Pena, que por enquanto, ela não conseguirá entender a mensagem, não pq não saiba ler, mas pq meu aluninho ainda não consegue escrever.

Raf tem 11 anos, é repetente da quarta série, tem um distúrbio na fala e faz tratamento com uma fonoaudióloga.

Sei que é irreal o q direi, mas o sentimento não conhece fronteira. Ele está apaixonado e quis expressar seu amor, sem se preocupar com sua dificuldade na escrita e leitura, sem se preocupar com nada.


Afinal, se o amor existe, é lindo ou não é???

Lindo, neh?

bjos

Beth

2 comentários:

Unknown disse...

essa história eh linda demais!

Nádia disse...

a história é linda e o rafael é lindo!!!
e olha que ele gosta da ana pq ela é bonita ! ahahhaa

Construção

Construção
O eu, escreveu Lacan, constrói-se à imagem do semelhante e primeiramente da imagem que me é devolvida pelo espelho - este sou eu. O olhar do outro devolve a imagem do que eu sou. O bebê olha para a mãe buscando a aprovação do Outro simbólico. O bebê tem que (é obrigado a) se “alienar” para que se constitua um “sujeito”. Porém só quando o bebê perde o objeto do seu desejo (mãe/seio) é que ele verifica que sua mãe não faz parte do seu corpo e não é completo (completude). Esta perda/separação vem por meio do “Significante Nome do Pai” que são as leis e limitações naturais da vida (trabalho, individualidade etc.). http://psiquecienciaevida.uol.com.br/ESPS/Edicoes/24/artigo70925-1.asp