quarta-feira, 7 de maio de 2008

CRIANÇAS QUE “VIVEM” NA RETINA DO OUTRO*

Trata-se de crianças que não podem sonhar, permanecendo, muitas vezes, em estado de alerta, tentando cumprir aquilo que julgam que é esperado delas ou tentando evitar ter de se submeter a isto. (PARENTE, 2003:56).

Quando li esse trecho no livro da professora Sonia Parente, com dor reconheci alunos meus nessa situação. São crianças inibidas, retraídas, que desconhecem ou não têm acesso ao seu potencial criativo. Simplesmente nada fazem quando solicitadas a algo de desejo próprio, não conseguem criar, imaginar, relaxar.

Quando há falhas do ambiente no suporte ao desenvolvimento, o ser humano utiliza-se dos mecanismos de defesa (Freud), organizados pelo pensamento da criança, que substitui a mãe suficientemente boa (Winnicott).

Essas crianças angustiadas parecem não ter idéias, são inibidas intelectualmente, resultado da falha do ambiente numa época de dependência absoluta, quando bebezinhos. Há necessidade de tratamento e intervenção nesses casos.

Fiquei lendo Sonia Parente e recordando algumas reclamações ouvidas, referindo-se a alunos: eles não fazem nada porque são safados, ou, esse aqui vai tirar nota vermelha, já que quando eu peço para fazer algo, apresenta tudo em branco, nem sabe pensar, não quer fazer, credo!!

Mal sabem que atrás de um problema de aprendizagem, uma inibição intelectual, há razões sérias (tratáveis, mas sérias), que não se resolvem com uma classificação simples como safado. Nós adultos, inclusive, já vivenciamos o bendito "branco" numa hora de avaliação, não é? Por que, então, crucificar as crianças?

Estamos numa época tão diferente, mas, infelizmente, muitas posturas pedagógicas não mudam e o aluno, como antigamente, é sempre o culpado de tudo.

Pena...




*PARENTE, Sonia Maria B.A., Pelos caminhos da ilusão e do conhecimento – Uma fundamentação teórica na clinica da aprendizagem a partir de D.W. Winnicott, São Paulo, Casa do Psicólogo, 2003.


2 comentários:

Unknown disse...

hum..........

e os pequenos sofrem mais ainda levando a culpa....

Nelson Frediano Junior disse...

Assino em baixo. Gostei da visão.
Ah! Ia me esquecendo: Tens que mudar o seu perfil. Ficou datado.

Beijo.

Nelson

Construção

Construção
O eu, escreveu Lacan, constrói-se à imagem do semelhante e primeiramente da imagem que me é devolvida pelo espelho - este sou eu. O olhar do outro devolve a imagem do que eu sou. O bebê olha para a mãe buscando a aprovação do Outro simbólico. O bebê tem que (é obrigado a) se “alienar” para que se constitua um “sujeito”. Porém só quando o bebê perde o objeto do seu desejo (mãe/seio) é que ele verifica que sua mãe não faz parte do seu corpo e não é completo (completude). Esta perda/separação vem por meio do “Significante Nome do Pai” que são as leis e limitações naturais da vida (trabalho, individualidade etc.). http://psiquecienciaevida.uol.com.br/ESPS/Edicoes/24/artigo70925-1.asp