J.F. é um garoto muito perdido em sala de aula. Na maioria das vezes comporta-se de forma hipotônica, hipoativa, sem vida. Mas, felizmente, isso está mudando.
Hoje apresentei tarefas especiais para alunos da U.T.I. Apresentei tarefas de leitura e escrita, com letras móveis e outras atividades. Esse grupo, hoje, não participou da aula de Educação Física. Evidentemente, esses alunos não gostaram muito disso, só que com o passar da aula, aceitaram perfeitamente (exceto uma criança). Na semana passada, eu avisei todos sobre minha intenção de dar aulas especiais de leitura e escrita para algumas crianças e quando seria. O reforço escolar após o horário de aula não acontece na minha escola (parece não ter professores para tanto).
J.F. é do grupo de risco. Para se ter uma idéia, até umas semanas atrás, ele não diferenciava vogais de consoantes. Vítima de violência doméstica (era espancado diariamente pelo pai), J.F. parecia ter desistido de tudo, inclusive de aprender. Eu tive a impressã que ele simplesmente vivia por viver, sem reação, sem ação.
Diante desse quadro, convocamos os pais diversas vezes (o pai nunca aparecia). Quando ameaçamos encaminhar o caso para o Conselho Tutelar, o pai apareceu rapidinho. Depois de uma conversa séria com a vice-diretora, as surras diárias sofridas por meu aluno, tiveram fim (por enquanto, pelo menos). Todos apanhavam naquela casa, inclusive a mãe. Parece que isso é passado, segundo a fala do garoto: Meu pai está super legal, agora ele conversa com a gente, bastante!
Os prejuízos, no entanto, ficaram, são patentes, principalmente para meu aluno. Mas, hoje pude perceber a alegria da realização com sucesso, no rostinho dele. Num trabalho em trio, formamos palavras com o alfabeto móvel. Em seguida, individualmente, fizemos outras atividades. O bacana é que ele conseguiu. Seu sucesso começou na aula coletiva, meio discreto, com apoteose na aula de reforço. Com sete alunos na sala de aula, pude dar uma atenção super exclusiva a cada um. Os resultados foram animadores, para todos. As atividades diferenciadas continuaram até o final do dia.
Na minha turma há crianças (grupo de risco), no nível da primeira série e outras (aquelas que avançaram), no nível da segunda série. Para esses, hoje iniciei o trabalho com letra cursiva (letra de mão).
No final da aula, na verdade, na saída para o recreio, algo inusitado aconteceu: J.F. veio ao meu encontro com os braços abertos e me deu um forte abraço. Eu fiquei muito surpresa, feliz também e o abracei igualmente com força (num abraço bem dado). Ele sorriu e eu percebi tudo isso como um agradecimento, um baita de um obrigado. Aí, eu lhe disse:
___ J.F., viu como você pode?
Ele sorriu e balançou a cabeça, num sim.
___ Então, garoto, é só trabalhar porque você pode, como qualquer um, viu?
___ Vi, prô, vi!
Eram 9h40 e nós fomos almoçar. Nessa segunda feira, dia 12/05/2008, o nosso almoço (meu e do J.F.) teve um gosto super especial, o gosto da vitória.
Beijos J.F. – você pode, você consegue!
Formação da competência docente
Há 7 anos
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