segunda-feira, 16 de junho de 2008

GREVE OU NÃO GREVE. EIS A QUESTÃO!!

O dia começou assim:

__Crianças, acho que todos viram na televisão sobre a greve dos professores, certo? Então, aqui na nossa escola ainda não entramos em greve mas é provável que entremos. Durante esse período, ficaremos sem aulas com possibilidade de reposição futura, inclusive nas férias de julho. Eu opto em não participar desse movimento, mas teremos uma reunião aqui, para definir o que faremos, tá?

Daí, ouvi os seguintes comentários dos meus alunos:

__ Greve, prô? Mas, aí não vai ter aulas?

__ Não, não haverá aulas no período da greve.

__ Quem vai entrar em greve, professora? Vocês ou nós, os alunos?

__ Somos nós, os professores.

___ Ah, tudo bem, pode ficar o tempo que quiser em greve, tanto faz.

___ Tanto faz??? Você não sabe que o estudo é importante prá gente? Não sabe que somente com estudo poderemos arrumar um bom emprego?? Ou você quer CARREGAR PEDRAS PELO RESTO DA VIDA??

Esse é o meu amor, o Brn, aquele do semen. Diga-se de passagem que ele mora na favela.

Eu fiquei parada, estática, cataléptica diante da fala do meu aluno. A sala se manifestou com uma salva de palmas fervorosa. Eu só pensei: caramba, é ótimo ouvir isso do meu aluno.
Outros disseram:

__ Não quero ficar em casa sem aprender. Não quero que a senhora entre em greve.

__ Ahhh, entra sim, professora, aí eu fico em casa dormindo até mais tarde.

Bom, esses e outros comentários (maravilhosos) surgiram na aula. Combinei informar a decisão sobre parar ou não.

Nós, os professores, fizemos duas reuniões. Fica em greve, não fica, será bom, não será, essas conversas que estamos acostumados. No final, decidimos assim: quatro não entrariam em greve (inclusive eu), e os demais parariam a partir de amanhã. No final do dia, o número de professores não grevistas, aumentou. Enfim...

Subi para a sala de aula, com a notícia.

___Crianças, precisamos conversar.

Conversamos, comuniquei a decisão dos professores e, por fim, disse que eu não entraria em greve. Nossa, a reação foi super interessante. Primeiro, houve uma salva de palmas (batemos palmas para tudo, em nossa sala), depois, um grupo dissidente se manifestou:

__ Não haverá greve?? Teremos aulas amanhã??

___Sim, teremos aulas, respondi.

De repente, um movimento bárbaro se instalou entre as crianças, ao som de:

____ Queremos greve!!! Queremos greve!!! Queremos greveee!!!

Eu olhei assim, e não acreditei. Às vezes sou lesada, lesada.

___ Vocês querem greve??

___ QUEREMOSSSSSSSS...

___ Tá certo, mas não há negociação, nesse caso.

Ouvi uns resmungos, abafados com o barulho do material sendo guardado. Liberei a sala e fomos para o pátio brincar. Tínhamos 15 min de diversão.

Os manifestantes contrário se calaram. Diante de um espaço livre para correr e brincar, eles só pensavam em aproveitar, nada de política. Pensando bem, eles são apenas crianças e greve é coisa de adulto.

Não acabou em pizza, mas meu dia de hoje, na escola, acabou numa alegre brincadeira.

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Construção

Construção
O eu, escreveu Lacan, constrói-se à imagem do semelhante e primeiramente da imagem que me é devolvida pelo espelho - este sou eu. O olhar do outro devolve a imagem do que eu sou. O bebê olha para a mãe buscando a aprovação do Outro simbólico. O bebê tem que (é obrigado a) se “alienar” para que se constitua um “sujeito”. Porém só quando o bebê perde o objeto do seu desejo (mãe/seio) é que ele verifica que sua mãe não faz parte do seu corpo e não é completo (completude). Esta perda/separação vem por meio do “Significante Nome do Pai” que são as leis e limitações naturais da vida (trabalho, individualidade etc.). http://psiquecienciaevida.uol.com.br/ESPS/Edicoes/24/artigo70925-1.asp