terça-feira, 17 de junho de 2008

IMPRESSIONANTE!

Antes do recreio:

__ Professora, o EVS tentou isso (...) comigo.

__ EVS, o que foi isso?

__ Brincadeira, professora.

__ Isso é muito sério para ser brincadeira.

Depois do recreio:

___ EVS, vamos à diretoria. O que ocorreu na fila, antes do recreio é muito sério para ser esquecido.

___ Eu NÃO vou, professora.

___ EVS, sinto muito, você receberá uma punição por isso.

Na sala, após o recreio, EVS chorou, mas chorou, mas chorou como eu nunca tinha visto algum aluno chorar. Pedi para ele se acalmar, afinal, como ele poderia se defender frente à vice, chorando daquele jeito.

___ Eu não vou, professoraaaaaaaaaaaaa... Respondeu, numa mistura de pranto, revolta, medo, sei lá.

Durante o recreio, conversei com a vice para saber o que fazer diante da situação disso. Fui orientada.

Toc, toc...

__ Beth, licença. A mãe do EVS está aí pra conversar com a senhora.

__ Mas, já? Quem a chamou, foi você?

__ Não.

Desci...

___ Pois, não?

___ A senhora é a professora do EVS?

___Sim, vamos conversar ali (indiquei o local).

___ Eu vim aqui porque estava em casa e VI o EVS chorando na sala de aula. Eu até disse para ele: não chore meu filho, estou indo aí te ajudar. Então eu vim.

___ Sim, mãe, ele está chorando...

___Eu fiquei preocupada, ele é apenas uma criança, e não deveria ser punido como se fosse um adulto. Com adulto a gente fala e ele entende, já com criança...

___ É verdade, mas hoje ele fez algo que não devia e eu chamei-lhe a atenção.

___ Ah, mas não se pode fazer o que não deve. Mas, olha, ele é apenas uma criança...

___ Como a senhora chegou aqui tão rápido? Quem a chamou? Quem ligou pra senhora?

___ Ninguém me chamou, eu apenas VI que meu filho EVS estava chorando na sala e vim socorrê-lo.

___ A senhora viu isso, agora?

___ Vi, sim.

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Essa mãe foi na escola porque percebeu que seu filho estava chorando, algo tinha acontecido com ele. Essa senhora, desesperada, de chinelos, desarrumada, sofrida, desdentada, confusa, prolixa, assustada, doente, percebeu, de longe, o sofrimento de seu filho. Saiu de casa, em urgência, para livrá-lo da dor. Enquanto falava comigo, quase não respirava, só emitia as palavras. Seus olhos, fixos nos meus, permaneceram estáticos. Tive a impressão que só sua boca mexia, só ela trabalhava nesse momento, sem parar.

Eu fiquei impressionada.

Ninguém da escola telefonou para canto algum, ninguém fez contato com ela. Também, nem precisava, como uma conexão assim.

Sabemos, conforme a tia do garoto, que a mãe do EVS, após seu nascimento, entrou num estado depressivo e não mais se curou.

De volta à sala:

___ EVS, conversei com sua mãe agora. Já está tudo resolvido. Você não precisa descer para falar com a diretora, eu fiz isso. EVS, pára de chorar, vamos lá fora conversar.

Conversei com meu aluno e ele ainda chorava muito. Depois, entrei para a aula e uma amiga da secretaria ficou um longo tempo dialango com ele. EVS ficou calmo, lavou o rosto e voltou à sala. Antes do término da aula, pediu desculpas para seu colega pela brincadeira (sem graça) que tentara lhe aplicar.

EVS é um dos melhores alunos da minha classe. Mora com os tios e um primo de 14 anos, já que sua mãe permanece doente desde seu nascimento.

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Construção

Construção
O eu, escreveu Lacan, constrói-se à imagem do semelhante e primeiramente da imagem que me é devolvida pelo espelho - este sou eu. O olhar do outro devolve a imagem do que eu sou. O bebê olha para a mãe buscando a aprovação do Outro simbólico. O bebê tem que (é obrigado a) se “alienar” para que se constitua um “sujeito”. Porém só quando o bebê perde o objeto do seu desejo (mãe/seio) é que ele verifica que sua mãe não faz parte do seu corpo e não é completo (completude). Esta perda/separação vem por meio do “Significante Nome do Pai” que são as leis e limitações naturais da vida (trabalho, individualidade etc.). http://psiquecienciaevida.uol.com.br/ESPS/Edicoes/24/artigo70925-1.asp