quarta-feira, 4 de junho de 2008

GUI

O Gui me preocupa.
Hoje ele estava com diarréia. Foi prá casa mais cedo.
Ele é um garoto fofo (literalmente), com o rostinho de anjo, mas um perfeito (como posso dizer??), bom, um perfeito não anjo (risos).

Chega todos os dias com um pirulito na boca, uma mochila nas costas e com um boné cobrindo seus cachos loiros. No começo, sinceramente, quando ele faltava à escola, eu pensava: GRAÇAS A DEUS o Gui não veio hoje. Sua ausência era sinônimo de paz na sala de aula. Naquele dia eu tinha certeza que aviões não iriam cruzar os céus de minha sala, borrachas estraçalhadas não iriam acertar algum aluno desavisado, nem haveria guerra com bolinhas de folhas amassadas. Mas, com o tempo...

Com o tempo ele deixou de faltar às aulas e eu deixei de desejar que ele faltasse. Nos acostumamos um com o outro. Hoje, não posso dizer que nos amamos, mas nos entendemos muito bem. Quando eu dou uma bronca nele (Gui, senta! Gui, faz a tarefa! Gui, pára com isso!), ele me responde um tá bom, professora, ou resmunga um você é do mal! Ele já não me chama de fdp, vgbd, ou outros nominhos simpáticos. Atualmente, eu poderia dizer que somos quase bons amigos. Já consigo dar-lhe uns beijos naquelas bochechas enormes, um abraço que meus braços não alcançam, olhar nos olhos dele, profundamente, e dizer: você é fofo, você é um gato. Já consigo querer bem, gostar mesmo desse aluninho (alunão).

Ontem soube que ele urina na cama quando dorme. Um amigo dele comunicou essa informação de uma forma bem delicada, aluno por aluno. Eu interrompi a comunicação e conversei com o comunicante. Por sorte, os ouvintes nem ligaram para a fofoca. Mas, infelizmente, é possível que Gui tenha percebido isso, não sei. Farei uma troca de papéis nessa semana, ainda. Vamos dramatizar uma situação onde um personagem divulga um segredo de outro, só por sacanagem, só por vingança. Talvez eu sensibilize meus alunos, aqueles que necessitam, para que ocorra uma mudança de comportamento.

A maioria dos meus alunos consegue ler, atualmente. Temos, na 4 ªC, crianças com competências variadas na leitura. No início do ano, apenas um, num grupo de 25 alunos, sabia ler. Espero que até o final do ano todos saibam ler com desenvoltura e escrever com autonomia. Desejo que os Guis, os Brns, as Jalis, os Santos, os Frts, os Rochas tenham um futuro bem bom, cientes e crentes de que podem, que podem tudo o que quiserem, é só trabalhar prá isso.

___Mas, professoraaaa, eu sou criança e ainda não posso trabalhar. O médico disse isso.

___Brn, não é trabalhar como adulto, é outro tipo de trabalho. Mas, deixa, isso é uma outra história e ficará para uma ouuuutra postagem, entende???

__ Tá, prô. Mas, o médico disse!

___Brn, já para teu canto!!!!!!! Mas, Brn, eu estou em casa, o que você está fazendo aqui???? Já, prá tua casa!!!

Eu mereço...

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Construção

Construção
O eu, escreveu Lacan, constrói-se à imagem do semelhante e primeiramente da imagem que me é devolvida pelo espelho - este sou eu. O olhar do outro devolve a imagem do que eu sou. O bebê olha para a mãe buscando a aprovação do Outro simbólico. O bebê tem que (é obrigado a) se “alienar” para que se constitua um “sujeito”. Porém só quando o bebê perde o objeto do seu desejo (mãe/seio) é que ele verifica que sua mãe não faz parte do seu corpo e não é completo (completude). Esta perda/separação vem por meio do “Significante Nome do Pai” que são as leis e limitações naturais da vida (trabalho, individualidade etc.). http://psiquecienciaevida.uol.com.br/ESPS/Edicoes/24/artigo70925-1.asp