quarta-feira, 23 de setembro de 2009

UM PEQUENO ATO E UM MILAGRE!

Rnn é um garoto que vinha na escola para fazer nada ou muito pouco. Isso para mim era um desafio. Além do nervoso que passava diariamente, já que ele brincava e brincava na sala de aula, preocupava-me o fato dele não escrever nada em seu caderno, não conseguir sequer copiar o São Paulo colocado na lousa. Se isso não bastasse, Rnn é filho (caçula) de uma família de nove irmãos, muito amorosa mas muito desorganizada. Pra se ter uma idéia, às vezes ele chegava na escola com a mochila de sua mãe (aluna do curso noturno), outras tantas, com a de um de seus irmãos. Quando aparecia com sua própria mochila, nunca vinha com o material completo, ora faltava lápis, ora caderno, sempre os livros. Que loucura. Um absurdo sem tamanho.

Bom, tentei algumas estratégias que, felizmente, deram certo. Hoje, Rnn é um garoto que consegue copiar as tarefas da lousa, consegue realizar as lições em seu caderno, fica feliz da vida quando acerta e se sente poderoso no grupo de apoio, porque é um dos melhores. Mas, se o aprendizado estava com sucesso, a questão do material e da mochila continuava ser um problema, um problemão, diga-se de passagem. Para resolver isso tive uma idéia: passei a guardar o caderno e seu estojo no meu armário.

Sem saber o que ia ocorrer de fato, mas com fé na melhora, entreguei o material (caderno novo e estojo completo, novinho em folha) para meu aluno, nessa segunda feira (fui na Kalunga comprar, no sábado). A mudança foi radical. Rnn animou-se com isso e desde então realiza as tarefas propostas, com uma alegria danada. Sempre com muito esmero.

Um caderno brochura novo, uma dúzia de lápis de cor, dois apontadores, borrachas e dois lápis preto, além do estojo. Algo que para uma criança da classe média não teria nenhum valor, mas para meu aluno, da periferia da periferia de São Paulo, isso fez uma diferença danada, um pequeno milagre.

Um comentário:

nádia disse...

que fofo esse aluno!
bjinhus

Construção

Construção
O eu, escreveu Lacan, constrói-se à imagem do semelhante e primeiramente da imagem que me é devolvida pelo espelho - este sou eu. O olhar do outro devolve a imagem do que eu sou. O bebê olha para a mãe buscando a aprovação do Outro simbólico. O bebê tem que (é obrigado a) se “alienar” para que se constitua um “sujeito”. Porém só quando o bebê perde o objeto do seu desejo (mãe/seio) é que ele verifica que sua mãe não faz parte do seu corpo e não é completo (completude). Esta perda/separação vem por meio do “Significante Nome do Pai” que são as leis e limitações naturais da vida (trabalho, individualidade etc.). http://psiquecienciaevida.uol.com.br/ESPS/Edicoes/24/artigo70925-1.asp