domingo, 20 de abril de 2008

DE NOVO, NÃOOO...

Hoje foi segunda feira.

Como toda segunda feira, faço uma roda de conversa com meus alunos, logo no início da aula. Nesse momento, eu falo do comportamento de cada um durante a semana, o que é necessário mudar para melhorar a aprendizagem, seus pontos negativos e positivos. Quando eu termino de falar, abro para a classe opinar a meu respeito, o que eu fiz de bom ou de ruim, o que eu posso melhorar, essas coisas...

Bom, procuro deixar os alunos à vontade, para dizer coisas positivas e negativas a meu respeito, Tenho ouvido falar somente o lado bom do meu trabalho. Sempre desconfiei disso. Não é possível que todos gostem de mim da mesma forma, todos os dias etc. No entanto, no entanto... No entanto hoje alguns voluntários levantaram a mãozinha para falar coisas negativas sobre mim. Devo confessar que fiquei orgulhosa da coragem dessas crianças. Eu mesmo, não teria tanta...

Aí, vem o Luc e me diz:

__Sabe, professora, sabe...a sinhora deveria ter um pouco mais de paciência com a gente. Bom, eu anotei na lousa: ter mais paciência com os alunos.

Aí, eu perguntei:

__Em quais situações, Luc?

O anjinho respondeu:

_ Sabe professora, assim, a sinhora deveria ter mais paciência para ESPERAR A GENTE TER VONTADE DE FAZER LIÇÃO(!!!!!!)

_ÂÂÂÂ? Esperar vcs terem vontade prá fazer a lição???????
- É prô, assim a sinhora não fica tão nervosa com a gente, entende???

Eu juro, quase infartei (de novo). Socorrooooo. Eu preciso da Super Nanyyyy. Isso foi a única coisa que meio veio à cabeça. Por sorte, um aluno (santo, que Deus o conserve..), socorreu-nos a todos, dizendo:

__Larga a mão de ser bobo, muleque. Onde já se viu a professora esperar para vc ter vontade de fazer a lição. Que coisa besta. Faiz como eu, qd não estou com vontade de estudar, eu nem venho na escola. Tipo assim, eu acordo e penso: ahhh, hoje eu tô com preguiça, não vou na escola, não. Então eu me viro na cama e volto a dormir.

O danadinho ainda pergunta:

__Não tô certo, fissora?

Eu senti que minha boca estava aberta, o maxilar inferior na altura do meu joelho. Não conseguia pensar, seguer agir...

Então, respondi de sopetão:

__Excelente idéia, Bru, excelente.

Aí, eu me toquei que não poderia falar isso e corrigi:

__ Bru, você falta muito, menino. Desse jeito você vai ficar muito prejudicado.

Sinceramente, no fundo, no fundo, eu queria que todos os meus alunos pensassem como o santo Bruno, ou seja, ir na escola para aprender, com vontade.

Ouvi outras dicas, tipo: prô, dá menos lição, prô, dá só Matemática, prô fica calma para vc não ter um troço na sala de aula. Um aluno, em off, veio conversar comigo: a professora do ano passado era super legal. A besta aqui perguntou o pq, a resposta veio: pq ela dava desenho prá gente pintar e deixava a gente jogar na sala de aula, brincar, qd a gente não tinha vontade de fazer a lição. Caramba, pensei, isso é covardia....

Tudo parecia trancorrer bem, até que (até que...).

Do nada, uma danadinha cismou de puxar a orelha de um menino. Ela puxou tão forte que o coitado foi quase até o chão. Eu fiquei olhando e, te juro, só consegui reagir em camêra lenta, tipo assim: s o l t eeee a o r e l h a do F r i t aaaaa ssssssss. Caminhei, ainda em camêra lenta, em direção ao holocausto. Quando cheguei, já era tarde, o garoto em lágrimas corria atrás da danada. A menina saiu correndo por sobre as cadeiras em direção à porta. Depois, ainda no pique, saiu correndo para fora da sala e se foi. Ao mesmo tempo levantaram-se cinco garotos, como q combinados e saíram da sala correndo, para pegar a menina. A santa aluna no banheiro das meninas e os meninos entraram lá, tb. O resto vcs podem imaginar. Eu não lembro da minha reação exatamente, quando me vi, estava na porta da sala pedindo para eles voltarem. Fui ouvida??? Nãooooo

Para encurtar a história, quando eles voltaram eu pedi que eles ficassem fora da sala para ter uma conversa comigo. A aluna (desculpa, mas ela eh um terror), disse, afirmou e reafirmou que não sairia. Eu fui lá na mesa dela, peguei suas coisas e coloquei dentro da mochila. Por fim, o inspetor de alunos levou-a para baixo.


Vocês conseguem imaginar minha classe como ficou?

Bom, não gostei do dia de hoje.

A coisa tá pesada, gente...


Beth

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Construção

Construção
O eu, escreveu Lacan, constrói-se à imagem do semelhante e primeiramente da imagem que me é devolvida pelo espelho - este sou eu. O olhar do outro devolve a imagem do que eu sou. O bebê olha para a mãe buscando a aprovação do Outro simbólico. O bebê tem que (é obrigado a) se “alienar” para que se constitua um “sujeito”. Porém só quando o bebê perde o objeto do seu desejo (mãe/seio) é que ele verifica que sua mãe não faz parte do seu corpo e não é completo (completude). Esta perda/separação vem por meio do “Significante Nome do Pai” que são as leis e limitações naturais da vida (trabalho, individualidade etc.). http://psiquecienciaevida.uol.com.br/ESPS/Edicoes/24/artigo70925-1.asp