terça-feira, 24 de junho de 2008

INEVITÁVEL

Não tinha a intenção de, novamente, falar sobre mim. Mas, tornou-se inevitável este novo registro, autêntico e legítimo.

Ao escrever sobre minha aluna gata, com seus pezinhos desprotegidos no frio da manhã de ontem, dei-me conta de que falava da Beth, já uma mocinha, ainda tímida e pobre (bom, isso vcs já sabem, rsrsrs). Lembrei de outra coisa, agora, mas não escreverei sobre isso, rsrs

Bom, eu tinha 14 anos. Arrumei-me gatinha, dentro de minhas possibilidades, e fui ao encontro de meus amigos (?), num grupo de jovens religiosos, na minha igreja (católica). Fui toda linda, estava de blusa de frio nova, gorro novo, arrumei meus cabelos e lá fui eu. Juro, estava sentindo-me poderosa, uma estrela de róliudi, A GATA, ma-ra-vi-lho-sa.

Senhorrrrr, eu não sabia o que me esperava...

Entrei no salão de reuniões. De repente, uma amiga grita lá do fundo: ei, Beta, você só sente frio da cintura prá cima???

Bom, aprendi a tricotar aos dez anos. Sabia fazer blusas, cachecóis, gorros, coletes etc. Frio eu não passava, não da cintura para cima. E foi justamente isso o que aconteceu, naquele domingo nublado, numa tarde fria de inverno. Vestia uma blusa confeccionada por mim em tricô. Na cabeça, um gorro lindo, meidi in Beth e, nos pés, um chinelinho de couro, tipo rasteirinha, da minha mãe (num número maior do meu). Juro que eu me sentia tão bem, tão linda, gatíssima e nem liguei para esse detalhe, mas Nilzete não perdoou, percebeu na hora e divulgou para todos ouvirem: você não sente frio nos pés???

Maldade.

Ontem pela manhã, olhei para os meus pés protegidos e calçados com uma linda bota preta e comparei com a situação de minha aluna, com um chinelo rasteirinha. Quase senti vergonha. Tive o ímpeto de esconder meus pés, mas logo pensei: eu consegui e ela há de conseguir também.
Meus alunos, não sei como, leram os meus pensamentos. Um deles disse:

___ Prô, você está quentinha. Você é muito elegante, chique (obrigada, meus amores, rs).

___ Ah, gato, estou quentinha hoje, mas quando criança fui como vocês, no frio não tinha o que vestir e, no dia-a-dia, quase não tinha o que comer. Mesmo assim, aqui estou. Eu consegui e vocês conseguirão, também. Eles ficaram me olhando, olhando, olhando, como a pensar: eu conseguirei?? Dessa vez, eu li o pensamento deles e respondi:

___ Sim, eu não tenho dúvidas. Vocês conseguirão!

Eu tenho certeza disso. Vocês, leitores, têm alguma dúvida???


Quando sentirai {La forza è dentro noi}
Che afferra le tue ditta {Amore mio prima o poi}
la riconoscerai , {La sentirai}La forza della vita
Che ti trascinerà con se, che sussurra intenerita:
"guarda ancora quanta vita c'è!"

La forza della vita - Renato Russo
http://www.youtube.com/watch?v=kxpBSuTCQ2Y&feature=related

Em especial, para Nelson Frediano Junior.

Um comentário:

Nelson Frediano Junior disse...

Quando você ouvir (A força está em nós) O que domina os seus desejos(meu Amor mais cedo ou mais tarde a reconhecerá),ouça a força da vida e se você observar como sussurra sem parar: olhe quanta vida ainda há !

Meu italiano é um pouco capenga, sou melhor no napolitano, mas é mais ou menos isso. Bravo. Bravíssimo.

Beijo.

Nelson.

Construção

Construção
O eu, escreveu Lacan, constrói-se à imagem do semelhante e primeiramente da imagem que me é devolvida pelo espelho - este sou eu. O olhar do outro devolve a imagem do que eu sou. O bebê olha para a mãe buscando a aprovação do Outro simbólico. O bebê tem que (é obrigado a) se “alienar” para que se constitua um “sujeito”. Porém só quando o bebê perde o objeto do seu desejo (mãe/seio) é que ele verifica que sua mãe não faz parte do seu corpo e não é completo (completude). Esta perda/separação vem por meio do “Significante Nome do Pai” que são as leis e limitações naturais da vida (trabalho, individualidade etc.). http://psiquecienciaevida.uol.com.br/ESPS/Edicoes/24/artigo70925-1.asp