quinta-feira, 28 de agosto de 2008

ELABORAÇÃO... cont . do ACHO QUE ENTENDI

Propus à classe que dramatizássemos algumas cenas. Todos aceitaram a proposta, aliás, ficaram super ansiosos para o início do trabalho.

Começamos...

Dividi a classe em grupos de três, lancei o tema, dei um tempo para ensaio, arrumamos as cadeiras e carteiras e fomos às apresentações. Meu objetivo era promover situações para que meus alunos elaborassem a angústia da separação, promovida pelas férias, retratada nos atos violentos em sala de aula. Elaborando a angústia deles, aliviaria o meu próprio sofrimento decorrente dessa situação.

Sendo assim, foi dada a largada: lançou-se ao palco o primeiro grupo. Quem de sopetão entrasse na nossa sala, nada entenderia.

No primeiro dia, os alunos refletiram, em suas encenações, o mundo em que vivem. No segundo dia, a realidade de uma escola (do fundamental II) e no terceiro dia, cenas de uma sala de aula. Todos trouxeram aquilo que viram, ouviram ou vivenciaram. Pude constatar seus medos, inconformismos, pensamentos, opiniões e o reconhecimento de seu modo de agir, equivocado, através dos personagens em cena. No final de cada encenação, o grupo explicava tudinho para a classe, ou seja, qual realidade eles representaram, qual ensinamento eles queriam transmitir, se a peça foi baseada em fatos retirados de suas vidas ou de alguma cena na televisão, cinema, contada por alguém etc.

Certo ou errado. Bem ou mal. Bom ou mau.

Felizmente, percebi que meus alunos, mesmo carentes e moradores de favela (alguns), discernem o caminho do bem daquele que não leva à nada. Conhecem a violência, vivem-na. Sabem dos perigos que as drogas oferecem, fogem dos adultos desconhecidos, citam crianças, amigas suas, vítimas da pedofília, falam de outras, desaparecidas. Mesmo assim, estão firmes e fortes no caminho do bem.

Na idade deles, eu brincava de pega-pega com meus amigos e irmãos na rua, sem medo. O bandido, tinha cara de bandido, o cara mau, tinha cara de mau, podíamos nos defender com mais facilidade. Mas hoje não, hoje tudo se confunde. Meus alunos, pré adolescentes, vivem e sobrevivem numa época de grandes riscos, de grandes medos, de grandes dores e muitas perdas. Pequenos heróis, comparecem todos os dias à escola em busca de algo mais, de um carinho, do aprender, da segurança, da merenda, de bons tratos...

Ahhhhhh, meus alunos...

Que o Senhor Deus olhe, carinhosamente, para cada um de vocês e os proteja do mal de nossa época. Amém.

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Construção

Construção
O eu, escreveu Lacan, constrói-se à imagem do semelhante e primeiramente da imagem que me é devolvida pelo espelho - este sou eu. O olhar do outro devolve a imagem do que eu sou. O bebê olha para a mãe buscando a aprovação do Outro simbólico. O bebê tem que (é obrigado a) se “alienar” para que se constitua um “sujeito”. Porém só quando o bebê perde o objeto do seu desejo (mãe/seio) é que ele verifica que sua mãe não faz parte do seu corpo e não é completo (completude). Esta perda/separação vem por meio do “Significante Nome do Pai” que são as leis e limitações naturais da vida (trabalho, individualidade etc.). http://psiquecienciaevida.uol.com.br/ESPS/Edicoes/24/artigo70925-1.asp