Ontem, pela primeira vez, votei numa sala de uma escola que eu conheço muito bem. Lá meus filhos estudaram, lá eu estagiei. Fiquei emocionada, optei pelos candidatos no lugar onde passei quase um ano observando, estudando, aprendendo. Nessa sala, com a professora Dani, aprendi tantas coisas. Na época, ela tinha uns 27 anos e eu 44 (terminei a faculdade com 45 anos, prestei concurso, passei e aqui estou...). Optei pela escola pública e não me arrependo.
Em sua sala, Dani abrigava 25 alunas, talvez 30. Escola particular, externato, todas as alunas dessa classe eram internas (durante a semana), nessa instituição. Inclusive, a própria professora (Daniela), foi interna dessa escola, da primeira série do fundamental I, até conclusão do magistério. Sua mãe era e continua sendo uma das faxineiras do externato.
Bom, como disse, conheço bem a escola, de responsabilidade de freiras vicentinas. Minha mais velha (hoje com 23 anos), lá estudou. Minha do meio, também, e o meu filho caçula (hoje com 19 anos), cursou o antigo jardim da infância até o final do ensino médio, na Casa Pia. Lá estagiei Prática de Ensino do Fundamental I, Psicologia e Filosofia no Ensino Médio, além de Gestão Escolar.
Bem, contei tudo isso para dizer que eu não diferencio aluno da escola particular (que eu conheço bem) de aluno da escola pública, em suas capacidades e potencialidades, em suas condições de sucesso. No entanto, infelizmente, vejo uma grande diferença na participação das famílias desses alunos. Nunca presenciei uma reunião de pais e mestres, cujos pais não comparecessem, na escola (particular) de meus filhos. Pelo contrário, se chegássemos um pouco além do horário, nem tinha lugar para sentar.
Meus alunos são capazes, alguns deles são brilhantes. No entanto, são tão desacreditados por seus familias, mães, pais ou seus substitutos, tornando difícil que eles mesmos, crianças ainda, acreditem em seu prórprio potencial. O descaso é muito grande, em tudo relacionado à vida escolar dos meus alunos. Do material escolar à higiene pessoal, tudo falta. Pouco ou nada se cuida, ninguém se preocupa. Os alunos chegam com fome, muitas vezes porque a mãe não quis acordar cedo para preparar seu lanche da manhã, outras vezes porque não têm mesmo o que comer. Outros, chegam roxinhos de frio.
Sou filha de nordestinos, como a maioria de meus alunos, de família numerosa, muitos filhos etc. Senti fome e frio. Muitas vezes não tinha calçados inteiros para ir à escola, forráva-os com jornal, para disfarçar o buraco em sua sola. Mas, eu tive uma grande aliada, minha mãe. Engraçado que minha mãe (todas as mães), como primeira educadora, segurava minha mãozinha (que segurava um lápis), e a levava para escrever o a, b, c etc. Nordestina (linda de morrer, diga-se de passagem), minha mãe era semi analfabeta. Incrível que eu vim saber disso quando adolescente e levei um choque. Dona Terezinha que pouco lia e que quase nada escrevia foi minha primeira professora. Minha mãe olhava meus cadernos (encapava-os todos), colocava-me para fazer as lições, cuidava de meu uniforme, da minha higiene pessoal e tudo o mais. Meus sapatos podiam ser furados, forrados por papéis, mas minhas meias eram branquíssimas e minha saia (azul), super bem passada. Cadê as mamães de hoje? Por que abandonam (indiretamente), seus filhos?
Se tudo isso não bastasse, se a autonomia precoce que essas crianças têm de assumir não bastasse, não fosse um problema para elas, algumas educadoras ainda completam o quadro com o pensamento apocalíptico, expressos diante de um não conformismo meu, dizendo o seguinte: mas, não são alunos do Estado, você espera o quê deles? Essa profecia de que aluno do Estado, de escola pública, não vai à lugar algum, que eles estão fadados ao insucesso (se sobreviverem), é a pior inimiga dessas crianças dentro da escola. A coisa é séria. Por um lado, o abandono explícito desses alunos por suas famílias. De outro, a profecia auto realizadora que esses alunos são vítimas, no ambiente escolar. Caramba, quem sobrevive a isso?
Sei não, não entendo. Há tantas formas de evitar a concepção, mas a mulherada (algumas), continua pondo filho no mundo e descartando-o em seguida, como uma coisa (ele se cria por si). Pior ainda, é você optar, escolher, decidir trabalhar com crianças, numa sala de aula, durante 200 dias letivos, sem acreditar que esses alunos possam, conseguem e têm o direito do melhor de você, mesmo que eles estejam numa escola pública. Por que tem gente fazendo isso, sem gostar, de má vontade? Não entendo...
Opções equivocada dos adultos, em prejuízo das crianças.
Quem entende?
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