A porta da sala se abre, alguém bate, quer entrar, quer falar comigo. Viro-me e vejo uma mulher. Era Dona Aeia, mãe de Wsl (vide postagem: CHAMEM A SUPER NANNY, POR FAVOR). Ela não estava só. Acompanhavam-na seu filho caçula e seu filho mais velho, meu aluno.
___ OI, Dona Aeia, bom dia! Por favor entre, espere-me. Estou colocando a lição de casa na lousa, já falo com a senhora. Sente-se em alguma cadeira, já lhe atendo.
Só Deus sabe o que se passava em meu interior...
Expliquei o que queria com a lição de casa, mas a essa altura, com a presença da visitante inesperada, minha classe era pura agitação e apreensão. Convidei Wsl para entrar e acompanhar minha conversa com sua mãe, ele não quis (e estava roxo de medo, acreditem). É a mãe do Wsl, surrurravam. Alguns pararam de fazer a lição e, com os olhos arregalados, prestavam atenção aos movimentos dessa senhora. Uns outros se aproximaram, ficando ao meu lado (sentem-se por favor. Nada, eles não arredavam o pé). Todos sabiam que essa senhora era a minha provável-futura agressora. O que se passou na cabeça daquelas crianças, meus alunos, naquele momento com a presença dela?
Conversamos.
Evidentemente, dona Aeia negou a ameaça de meu aluno (ainda bem, senão não estaria aqui). Pediu desculpas e disse que nunca mais ele teria essa postura. Seu comportamento iria mudar já no próximo dia de aula. Conversamos muito. Antes de sair, realizou um sermão para meus alunos (bagunceiros, que não me respeitam, segundo ela). As crianças, reunidas para ouvi-la, tinham seus olhos atenciosos, abertos, fixos em sua fala (ouve-se pelos olhos?). Agradeci sua presença e ela saiu.
Dona Aeia (nome fictício), é uma mulher judiada pela vida. Seu rosto é bem bonito, mas, seus cabelos secos, desbotados, sem corte, marcam uma impressão ruim. Não há dentes na frente, no superior. Suas unhas são grandes, mal cortadas e com restos de esmalte. Não me comparei nem me envergonhei por ter uma aparência melhor, mas fico impressionada sempre que entro em contato com algumas mulheres, mães de meus alunos. Quando foi que essa senhora se esqueceu de que é mulher? Durante as surras levadas de seu marido? No trabalho diário, no catar papelão, na reciclagem? Nas violências sofridas, provavelmente, em sua casa, cuja autoria é de quem deveria protegê-la (pai e mãe)? Durante os partos ou gestações? Quando construiu sua casa, na favela? Quando perdeu seus dentes? Quando as marcas em seu rosto foram feitas? Ou quando percebeu que lutar não adiantaria, que vencer seria impossível e que viver (sobreviver), dia após dia, seria a única coisa a fazer, talvez, seu único direito? Quando?
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2 comentários:
fikei com medo mãe, pensei q ela tinha te batido, que bom q nao aconteceu nada. essa sua descrição me lembrou de um trabalho q eu pretendo fazer, depois te conto + sobre ele
=***
COMO A MÃE DESTE SEU ALUNO ESPERO QUE TENHA SIDO A LUZ NO FINAL DO TUNEL PARA ELA,
TANTAS MÃES QUE VIVEM ESTA DESVAIRADA VIDA DE POBREZA, DESCONSOLO E AINDA ESTÃO SUJEITAS Á SURRAS DIARIAS DE MARIDOS, DESESTRUTURADAS POR COMPLETO, MAS A SOCIEDADE POR SÍ SÓ NAO POSSUI O REMEDIO, O ESTADO NEM SEQUER TAO POUCO, MAS A UNIÃO DE MULHERES COMO VOCE, QUE ESTÁ Á FRENTE DESTA SALA DE AULA ,FAZ TODA DIFERENÇA, MINHA AMIGA, UMA CONVERSA VALE MAIS QUE UM CONSELHO, UM OUVIR É COMPARTILHAR, É SERENAR AS DORES DESTAS PROBRES MULHERES QUE NÃO PERCEBEM AS DIFERENÇAS DE VIDAS RICAS OU POBRES, TODAS VIVEM O MESMO DRAMA, MAS NO MEU ESTENDER E ACATAR AS SUAS DORES EMOCIONAIS, FAZEM DELAS PESSOAS....
QUE DEIXARAM DE EXISTIR LÁ MUITO TEMPO ATRAS,
EXISTEM MUITAS DONAS maes assim como esta, muitas milhares....
mas se cada 1000 existir uma LIZA, o mundo nao será mais o mesmo, pode acreditar,
beijos no coração!
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