quarta-feira, 29 de outubro de 2008

PROFESSORA, EU CONSEGUI...

Ela veio ao meu encontro com um sorriso. Sempre é assim. Ela é uma das meninas mais doces que eu conheci e mais simpática também. Seu sorriso é lindo, lindo demais. Seu nome é Thnra e é uma garotinha linda, portadora de retardo mental leve.

Thrna estava especialmente feliz, hoje.

__Professora, eu consegui ler.

__ É, Thá. O que você conseguiu ler?

__ O livro, professora, o livro que você pediu pra gente ler em casa.

___ Sério, que legal. O que você conseguiu ler, no livro?

___ Ahh, isso eu não sei, mas que eu li, eu li sim.

___ Demais, Thatá, parabéns. Eita menina porreta...

Ela, numa felicidade imensa, sorriu pra mim, deu um abração e entrou na sala. Do grupo de seis alunos com sérias dificuldades no aprendizado da leitura e escrita, Thá é a que se sai melhor. Sua mãe, senhora presente e preocupada com a filha, teme por sua ida ao fundamental II

___ Será que não dá para retê-la, novamente?

___ Por que, mãe?

___ Com o "problema" dela, eu tenho medo que ela estude com crianças muito maiores e adolescentes do "ginásio".

___ Não, mãe. Sua filha tem condições e será aprovada. Mesmo, porque, a Lei não permite a retenção por mais um ano, na quarta série.

___ E se eu trouxer uma orientação do médico dela?

___ Não, mãe. Sua filha não será retida, ela tem condições de seguir em frente.

___ Mas...

___ Ela será aprovada. É um direito dela avançar e eu, como sua professora, atesto sua condição para tanto. Ela não será retida.

Dito isso, eu percebi que os olhos da mãe de minha aluna ficaram marejados. De imediato, pensei em sua situação, coloquei-me em seu lugar, como mãe. Arrependi-me, também, de ter sido tão assertiva com ela. Por outro lado, mesmo compassiva, não posso impedir o desenvolvimento dessa criança. Sim, as dificuldades serão imensas, a inclusão ainda não é estabelecida, em alguns lugares, não passa de intenção. No entanto, o caminho da Thatá, minha aluna, será traçado por ela, inclusive e derrotas ou vitórias farão parte de sua vida, como fazem das nossas.

Não, não, não. Não impedirei o avanço dessa criança.

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Construção

Construção
O eu, escreveu Lacan, constrói-se à imagem do semelhante e primeiramente da imagem que me é devolvida pelo espelho - este sou eu. O olhar do outro devolve a imagem do que eu sou. O bebê olha para a mãe buscando a aprovação do Outro simbólico. O bebê tem que (é obrigado a) se “alienar” para que se constitua um “sujeito”. Porém só quando o bebê perde o objeto do seu desejo (mãe/seio) é que ele verifica que sua mãe não faz parte do seu corpo e não é completo (completude). Esta perda/separação vem por meio do “Significante Nome do Pai” que são as leis e limitações naturais da vida (trabalho, individualidade etc.). http://psiquecienciaevida.uol.com.br/ESPS/Edicoes/24/artigo70925-1.asp