Optei pela classe PIC, em 2007, para o ano de 2008. Já, nesse momento, estava ciente das dificuldades na lecto-escritura que meus alunos ofereceriam. Considerei, também, a precariedade na realização dos cálculos matemáticos, medições e geometria. Sabia, portanto, que não faria milagres embora o trabalho em modificar o status quo da 4ª C seria além de minhas fronteiras, realizado com muito esforço e dedicação já conhecidos. Como certeza, sabia que ensinando essa turma, muito iria aprender. Sim, consegui alcançar meus objetivos. Comparando o mês de fevereiro de 2008 e o mês de novembro do mesmo ano, o avanço foi patente, concreto, visível. Analisando essa turma (4ªC) no antes e depois, percebemos diferenças marcantes, avanços nítidos. Mas, é claro, não chegaram ao mesmo nível de uma outra quarta série, cujos alunos iniciaram 2008 já alfabetizados e letrados.
Bom, por que esse preâmbulo? Acho que quero me justificar. Quem sabe? Mas para quem? Para os adultos, para meus alunos? Para o governo? Para minha coordenadora? Para meus colegas professores? Para mim? Será que devo aceitar que falhei? Racionalizo ao dizer que fui bem sucedida? Não sei, não consigo avaliar o momento enquanto o vivencio. Enfim...
Sei que fiz a diferença para meus alunos. Mas, estarei pronta para receber um bônus ínfimo?
Sobre esse assunto, trago um artigo, enviado por minha sobrinha:
17/12/2008 Parabéns, Serra
José Serra sancionou a medida mais ousada de sua gestão: o pagamento dos servidores das escolas, com base especialmente no desempenho dos alunos. Para isso, ele teve de enfrentar a ira sindical e mesmo a incompreensão de parte dos acadêmicos, defensores da idéia de pagar pelo mérito é jogar nos professores a responsabilidade da qualidade do ensino. Vou repetir aqui que o professor é uma vítima: ganha mal, seu treinamento é precário, enfrenta, em especial nas regiões metropolitanas, a violência cotidiana combinada com a falta de infra-estrutura. Mas o aluno também é vítima do professor que, além das dificuldades conhecidas, não gosta ou não quer ser professor. Isso só piora o problema das faltas, dos atrasos, da pouca vontade de preparar aulas mais interessantes. Professores dedicados e esforçados são tratados da mesma forma que os relapsos. Não é justo nem com os professores nem com os alunos. O bônus proposto faz do professor mais esforçado sócio do sucesso de seu aluno e do relapso, cúmplice do fracasso. Isso exige que o poder público que apóie ainda mais as escolas, do contrário o bônus será apenas um penduricalho. Pela importância da rede paulista, esse bônus terá um impacto nacional e até na América Latina. Os bons professores (e não faltam professores dedicados) serão os maiores beneficiados, por serem reconhecidos em seu esforço.
Gilberto Dimenstein, 52, é membro do Conselho Editorial da Folha e criador da ONG Cidade Escola Aprendiz. Coordena o site de jornalismo comunitário da Folha. Escreve para a Folha Online às segundas-feiras.
Meu trabalho foi feito. O mais bem feito possível, para aquela turma, com a minha capacidade, naquele momento. Provavelmente meu bônus será baixo. Talvez racionalizando, digo: o investimento que Serra fez em mim, enquanto professora PIC, trará bons frutos, com certeza, já a partir de 2009, quando essas crianças, atuais leitoras (outrora cegas para letras, textos e seus significados) conseguirão acompanhar os demais alunos sem se sentirem excluídas, como nos quatro anos antereiores a 2008.
Meu trabalho foi feito, com coração e razão. Isso, para mim, é o mais importante.
Meus alunos, da quarta série C, que o digam...
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