domingo, 27 de dezembro de 2009

MEUS SENHORES E MINHAS SENHORAS!

Ontem à noite estive a pensar nos senhores e senhoras da minha antiga turma (1ªA). Os respeitados cavalheiros e damas tinham entre 6 e 7 anos de idade. Lembrei, com clareza, do primeiro dia de aula e da atividade de acolhimento proposta por mim, para minha turma. Eles eram muito pequenininhos. Com o tempo eles foram crescendo e perdendo os dentes da frente.

Não sei qual a ligação, neurologicamente falando, da perda dos dentes anteriores (da famosa janelinha) e do desenvolvimento cognitivo/motor. Na prática, eu percebia um salto na qualidade das respostas dessas crianças nesse período de troca de dentes.

___Prô, olha, esse dente está mole!

___ Prô, olha, esse dente mole está doendo!!

___ Prôôôôôô, meu dente caiu ontemmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmm!!!!

E, lá vinham eles, meninos e meninas, sem os dentinhos superiores. Ficavam uma graça.

Lembro-me de Lucas, quando os dentinhos caíram ele não queria sair debaixo de sua cama. Os meus amigos da escola vão rir de mim. Estou horrívelllllllllllllllllllllll.. Ele faltou por uns três dias seguidos. Sua mãe foi lá na escola avisar o que estava acontecendo com o filho. Tudo bem, eu disse, vamos esperar um pouquinho, logo ele toma coragem e volta para a escola. . Conversa com ele, mãe, logo ele supera esse momento.

Lucas retornou e com ele mais outros tantos iguaizinhos. As janelas tinham sido abertas, sem autorização deles, eu sei, mas estavam bem abertas. Meu aluno percebeu que não era o único sem dentinho. Ficou calmo e seguiu em frente no aprendizado. Detalhe: Lucas foi um dos melhores alunos dessa turma.

Nas minhas lembranças o rostinho de cada um apareceu. Da Camila, do Pablo, do Nathan, da Tatá (Thaís), da Tá (Tayná), da Lulu (Luíza) - o estilo em pessoa, que cruzava as pernas assim que sentava na sua cadeira de estudante. Isso com 6 aninhos. Essa menina é um charme só! Lembrei-me de todos, aí, preocupada, do Hnrq.

Hnrq é o garoto de baixa visão (16º graus nas lentes dos óculos). Várias vezes, na saída da escola, tive que dizer: Henrique, sai da rua, olha o caminhão dando ré! Não sei como ele sobrevive tão largado. Na semana passada, ele bateu na escola: tem papá, estou com fome!. Meu Deus, o que será dessa criança? Nos meses atrás pairou uma vontade de adotá-lo. Meu filho caçula tem 20 anos, a do meio 23 e a mais velha, 24. Sério mesmo, por pouco muito pouco eu não fui pedir a seu pai para me ceder a guarda da criança. Conversei com advogada e tudo o mais, só que me faltou coragem de seguir em frente. Seria eu uma boa mãe nessa altura do campeonato??? Fui eu uma boa mãe para meus filhos??? Sei lá, tive tantas dúvidas e questionamentos que desisti. Mas, o Hnrq não me sai cabeça. Será que ele ganhou algum presente de Natal???

Definitivamente, o Hnrq é uma criança que precisa de ajuda, de muita ajuda. Mas, de quem???

Um comentário:

nádia disse...

poxa, será q ganhou????

Construção

Construção
O eu, escreveu Lacan, constrói-se à imagem do semelhante e primeiramente da imagem que me é devolvida pelo espelho - este sou eu. O olhar do outro devolve a imagem do que eu sou. O bebê olha para a mãe buscando a aprovação do Outro simbólico. O bebê tem que (é obrigado a) se “alienar” para que se constitua um “sujeito”. Porém só quando o bebê perde o objeto do seu desejo (mãe/seio) é que ele verifica que sua mãe não faz parte do seu corpo e não é completo (completude). Esta perda/separação vem por meio do “Significante Nome do Pai” que são as leis e limitações naturais da vida (trabalho, individualidade etc.). http://psiquecienciaevida.uol.com.br/ESPS/Edicoes/24/artigo70925-1.asp